Blog do Prof Nescau

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Novos caminhos para a bicicleta

A bicicleta, em Curitiba, precisa ser tratada como modal de transporte. Precisa ser compreendida como elemento eficaz no sistema de transporte da cidade para que tenhamos uma lenta e gradual modificação tanto dos hábitos dos usuários no trânsito, quanto da estrutura geral do sistema.
Em Curitiba, a malha cicloviária foi implantada nos anos 70 com fins precípuos de lazer e esporte, visando principalmente à integração dos parques. Isso tem o seu valor, com certeza. Entretanto, os atuais caminhos não privilegiam aqueles trabalhadores e estudantes que usam a bicicleta todos os dias e não encontram uma malha segura, útil e confortável para pedalar. E é só a partir desta constatação – de que não há estrutura adequada para a “bicicleta utilitária” – que poderemos reformular radicalmente o modo como a ciclomobilidade vem sendo tratada pelos gestores e técnicos. Só assim ela será parte integrante do sistema de transporte da cidade.
Obviamente, não se tem a pretensão de que a bicicleta resolva todos os problemas de trânsito – os engarrafamentos são endêmicos, a violência é crescente, etc. – mas ela deve ser uma peça da equação, um recurso ágil e leve na engrenagem do transporte urbano. Devemos sempre lembrar que cada cidadão que usa a bicicleta está contribuindo ativamente para melhoria geral do trânsito. Cada bicicleta é um carro a menos. E a “magrela” leva uma vantagem sobre todos os outros modais: a aplicação de políticas de ciclomobilidade demanda mais criatividade e ousadia política que recursos públicos.
Nos bairros, por exemplo, centenas de novos caminhos podem ser abertos em poucos meses, sem aumentar substancialmente os gastos públicos. Basta pintar faixas no asfalto e sinalizar as rotas preferenciais para bicicleta. Essas “ciclo-rotas” devem conduzir aos centrinhos comerciais e aos terminais de ônibus dos próprios bairros. Estes, por sua vez, deveriam ser equipados com bicicletários e paraciclos internos, alguns até com oferta de serviços de reparo. Se a bicicleta não é melhor meio para o deslocamento de longa distância, ela é ideal para a mobilidade no bairro ou em distâncias de até 6 km. Principalmente se integrada a outros modais de transporte.
No centro, por sua vez, é possível aproveitar a criatividade de nossos arquitetos urbanistas e encontrar soluções para os ciclistas que se arriscam entre os ônibus e automóveis. Algumas ruas podem ser fechadas, dando acesso exclusivo para pedestres e ciclistas. Em outras, mais tranqüilas, é possível pintar ciclo-faixas permanentes, induzindo o morador do centro a usar a bicicleta. As políticas não devem ser apenas para quem já usa a bicicleta, mas para quem potencialmente a usaria. O uso em massa da bicicleta pode acontecer se tivermos estrutura adequada. Sem tal condição os possíveis usuários se sentem inibidos e desencorajados.
Outra idéia defendida entre os urbanistas (dentre eles, Jaime Lerner) para a ligação do centro com os bairros, é a implantação de ciclovias ao longo das estruturais, seguindo as vias do expresso biarticulado. Basta tirar o estacionamento de um dos lados da rua. Ninguém discorda que esta medida teria impacto imediato na mobilidade urbana, dando segurança a quem já utiliza a rota e estimulando uma massa potencial de usuários.
Como se vê, recursos (idéias) não faltam, basta compreender que a bicicleta é meio de transporte eficaz, e seu uso deve ser estimulado com políticas sérias, consistentes e, no atual contexto, ousadas.
A Prefeitura de Curitiba, que recentemente deu alguns acenos positivos à questão, poderia colocar em prática a nova concepção de ciclomobilidade no recém-inaugurado “Circuito Ciclístico de Lazer”. O traçado de tal circuito deve contemplar a possibilidade de em médio prazo, com campanhas de educação, torná-lo permanente. Fazer com que a ´faixa de lazer domingueira´ torne-se a ciclofaixa de segurança do dia-a-dia. A bicicleta enquanto lazer já é prática consolidada na cidade. Entendê-la, de fato, como opção de transporte é a ousadia que se espera de quem tem o poder nas mãos.


Jorge Brand (coordenador geral da Ciclo Iguaçu – Associação de Ciclistas do Algo Iguaçu) e Rodolfo Brandão de Proença Jaruga (coordenador jurídico da Ciclo Iguaçu)

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